Comida sem pressa.

Sábado de almoço de Colônia por aqui.

Acordar um pouco mais tarde, colocar lenha no fogão, esperar o fogo avivar até aquecer bem a chapa. Enquanto este processo acontece, ir preparando tudo, fazendo o mise en place, enquanto escuta um boa música.

Deixar a panela com o caldo em um cantinho do fogão e uma chaleira providencial, apenas com água, mais ao centro. Temperar a carne e esperar a hora de começar a preparar…existe coisa mais Slow Food que isto?

Reviver o cotidiano de nossos ancestrais, na época que comer era algo sagrado, o momento da família confraternizar e preparar corpo e alma para tudo que a vida pode apresentar. Afinal, não é este mesmo o sentido da alimentação, além é claro da sobrevivência?

Ando meio “italiano” ultimamente, com vontade da fartura e da simplicidade genial da comida da Bota. Comida com sabor de comida; comida para comer cantando e sorrindo; comida para ser dividida com quem gostamos; comida para ser imaginada bem antes, somente pelo aroma que exala.

Moro perto de Santa Felicidade, o bairro onde os imigrantes italianos que vieram para o Brasil e escolheram Curitiba como moradia, construíram um pequeno paraíso. Na grande maioria dos restaurantes que ali floresceram, a polenta e o frango  reinam absolutos.

Estas famílias chegaram por estas bandas em  1878. A princípio foram assentadas no litoral paranaense, mas migraram para o planalto, em virtude de não terem se acostumado ao calor úmido que fazia à beira-mar. Foi em Santa Felicidade que encontraram o solo e o clima ideal para desenvolverem suas habilidades na agricultura e passar tudo para a cozinha. Foi em Santa Felicidade que os imigrantes italianos reencontraram a alegria de viver, repassando isto para todos os demais habitantes da ainda  pequena Curitiba.

Preparar os pratos típicos italianos é um exercício de história. Uma polenta, feita com Broddo de Galinha e farinha italiana, mexendo sempre (1 hora), sem pressa e mantendo o sorriso sempre, é meio caminho andado para seu almoço ser lembrado sempre.

Quer dar uma incrementada? Adicione manteiga e creme de leite fresco no final e sua polenta ficará cremosa. Sim, aquela famosa Polenta Cremosa dos restaurantes mais famosos. Esqueça quantidades exatas. Vá mexendo e confie em sua intiuição. Ela te falará a hora que estará perfeita.

Galinha, esta ave tão presente na culinária italiana, é um dos melhores acompanhamentos para a Polenta. Temperada com sal e pimenta-do-reino; dourada em banha de porco, juntamente com alho e cebola; cozida em um ragu de tomates (esqueça pudores e use um pronto), um punhado de cheiro-verde e um pouco de caldo de galinha. Tudo lentamente, sem pressa, deixando todos os sabores se mesclarem e a carne quase soltar dos ossos. Sem segredos mirabolantes, apenas o carinho de quem prepara. Tem vida melhor?

Mas, almoço sem salada? Claro que não. Para acompanhar todas estas delícias, vem o Radite. Folhas amargas que darão todo o contraste ao prato. Como estamos falando de comida italiana, nada poderia ser tão light, por assim dizer. Bacon fatiado fininho, frito sem nada de aditivos, somente em sua própria gordura. Depois, é só despejar em cima das folhas, que darão uma linda murchada. Pronto, um molho fantástico e perfeito para o Radite.

Garanto para vocês: estes italianos são sábios demais. Dentro de uma simplicidade quase mágica, ingredientes simples, um lento preparo (é preciso tempo para dar atenção a quem está compartilhando este momento), um profundo respeito e gratidão ao que podem colocar na mesa, os italianos sabem o que fazem.

O segredo da mágica disto tudo? Simples…na alegria e carinho do preparo!

Orlando Baumel

Chef de Cozinha, músico e sócio do site junto com a Carol. Casado, pai de 3 lindas garotas.

Este post tem 5 comentários

  1. Orlando, muito boa fotografia, o prato está muito bonito, é interessante as evoluções que teve a língua portuguesa até na gastronomia, a polenta cremosa começou a ser utilizada no Brasil pelo imigrantes da ilha da Madeira e chamava-se Papas de milho, que pode ser cremosa ou frita, mas na verdade o que interessa e a mistura de sabores e o resultado final.
    Parabéns.

    1. Orlando Baumel

      Obrigado, João!
      Radite (ou radicce) e almeirão são a mesma verdura. Pode ser chamado chicória, também.

  2. Luiz

    Hoje servimos catalunha, ontem almeirão, até hidroponico tem, mas nada se compara ao radite (ou radiche) que temos desde os tempos dos nonos; é mais macio, mais amargo, mais saboroso e penso que vem do mato também, só foi mais selecionado…. com vinagre de vinho tinto. Mangia che te fa bene, eco

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