Teu despertar é canja de galinha.
Minha querida amiga Sandra Calasans, do Elemento Língua, nos brinda com esta bela colaboração: uma receita emocionante de Canja de Galinha.
Às vezes ficamos tristes.
Nem sempre a razão oferece opções e o coração se aperta todinho, e fica resmungando, cheio de cobranças sobre o que passou, sobre o que é e sobre o que virá.
Céus! Dá um vazio, aquela deprê sem gosto que aposta em nossa desgraça deixando uma vontade de ficar acuado num canto, sem se mexer, sem querer existir.
Hoje, acho que é um dia desses. Tô pior que canja. E não aquela que só eu mesma sei fazer, com galinha gostosa, fresquinha e cheirosa.
Sabe como é?
Você pega uns peitinhos lindinhos e dá uma boa temperada neles. Uma douradinha e um banho que pode ser com água fria mesmo. Aí deixe que cozinhe na água do banho até ficar tenro; não pode passar do ponto senão endurece.
Enquanto ele cozinha já vai dando um caldo com cheirinho bom, mas dois cubinhos de caldo de galinha vão fazer um reboliço e o cheiro vai ficar ainda mais esperto.
E você vai pensando na vida, nos amores que deixou passar, naqueles que perdeu sabe-se lá por que. Mas não esqueça que deixou a panela no fogo porque senão a canja vai virar uma gororoba.
Pra não mergulhar demais nessa tristeza, você pode dar uma raladinha em cebola (que vai te fazer chorar mais que tua pior desilusão) e na cenoura já pra dentro da panela. E ir colocando pitadas de orégano, manjericão, salsinha … bem devagarinho, só pra dar um colorido, porque isso vai alegrar um pouquinho você.
Tire os peitinhos da panela e coloque lá dentro aquele arroz que sobrou do almoço, já cozido, pro caldo não ficar muito empapado com o cozimento do arroz.
Ponha uma música suave pra tocar, mas não “aquela”… porque vai fazer você lembrar daqueles momentos especiais e isso vai chatear muito você.
Como penitência, desfie o frango ainda quente; vai queimar um pouco as mãos mas você tá merecendo se punir um pouco… Não consegue esquecer essa paixão esquisita que arrumou na internet.
Depois de desfiado, jogue o peito na panela, corrija o sal e adicione toda a raiva que você está guardando de si mesmo por ter se lascado em não lascar um beijo logo de uma vez, naquele primeiro e único encontro.
Deixe ferver tudo. Não se esqueça do azeite extra virgem e do queijo ralado no final.
Depois de pronto … encha a cara de vinho tinto, embebede-se de canja de galinha e vá dormir.
Tenha certeza que terá sonhos lindos. E que, pela manhã, adquirirá coragem pra mandar um torpedo dizendo: “Teu despertar é mar” !!! …
Sandra Calasans