Durante a minha infância, morei 2 anos com meus avós em uma cidadezinha do interior do Paraná. Depois que voltei para Curitiba, retornava para lá todas as férias. Com certeza é a melhor infância que alguém pode ter. De tantas lembranças maravilhosas, os dias de inverno (e lá é muito frio) estão entre meus preferidos, mesmo não sendo fã de frio. O fogão a lenha aceso o dia inteiro, os campos brancos de geada ao amanhecer e o pinhão são lembranças que ficam para a vida. Pinhão cozido, pinhão assado na chapa do fogão e pinhão preparado no mato, ao ar livre, nas grimpas do pinheiro.
As sapecadas de pinhão eram uma aventura. Andar pelo meio do mato, encontrar um pinheiro que derrubou seus pinhões no chão, catar este pinhões, pegar as grimpas, espalhar os pinhões no meio e botar fogo em tudo era o máximo da aventura. Aquecer-se esperando o fogo apagar para depois catar os pinhões para comê-los é de nunca mais esquecer mesmo. Aqueles pinhões que se confundem com o carvão depois de batidos e abertos são os melhores que já comi na vida.
Hoje, com a infância distante e apenas nas boas lembranças e passando por esta fase que não está sendo fácil para ninguém no mundo, sem poder ver amigos ou família, saudade é fácil de sentir. Tenho a sorte de morar em uma casa e em um lugar onde pinheiros são abundantes, assim como as grimpas. Achar um lugar em meu quintal e preparar uma legítima sapecada de pinhão fez o meu dia bem mais feliz. Se você tiver esta oportunidade, não perca. Tudo é um show, desde preparar a sapecada até abrir os pinhões com uma martelada. Se posso dizer que tive um dia mais feliz nesta quarentena, este foi o dia.