Posso dizer sem errar, que algumas de minhas melhores recordações estão ligadas ao pinhão. Se fechar os olhos, posso ver a cozinha de minha avó, com seu enorme fogão a lenha funcionando de manhã até a noite e vários pinhões assando lentamente em sua chapa. Posso sentir o cheiro que tomava a casa toda, escutar os pinhões estalando com o calor e lembrar até do pedaço de tronco de madeira onde os abríamos.

Pinhão na chapa

Posso lembrar de meninos andando pelo mato gelado, catando sapés e pinhões caídos, o “pinhão catado“, juntando-os no chão com o sapé por cima e colocando fogo em tudo, para fazer uma “sapecada“. Quando o fogo apagava, catar os pinhões queimando as mãos, sentar e abri-los com uma pedra para comer como se fosse a última refeição na Terra. Só quem teve o privilégio de passar a infância em uma cidade pequena do interior daqui do sul sabe do que falo.

Quando começo a ver pinhões sendo vendidos por aqui, todas estas lembranças me voltam. É como se o tempo parasse lá em Teixeira Soares, onde passei parte feliz de minha vida. O frio de lá era intenso, mas diferente do frio daqui. Hoje já não vejo os dias frios com a alegria que via os de lá. Mesmo com a água do tanque congelada de manhã pelas geadas, os dedos doendo com o frio, os lábios partidos, aquele era um frio alegre. Nenhuma tristeza passava pela mente, e se acaso passasse, sempre tinha o alento do pinhão.

Agora, daqui até meados do inverno, é hora de aproveitar esta semente maravilhosa. Tão maravilhosa que parece que cada uma tem seu sabor próprio. Aproveitar da maneira que mais adoro: na chapa, seja do fogão ou de uma panela de ferro, até que pareçam queimar. Depois, é só bater para abrir e deixar uma saudade gostosa tomar conta de tudo.

Pinhão na chapa 1

Orlando Baumel

Chef de Cozinha, músico e sócio do site junto com a Carol. Casado, pai de 3 lindas garotas.

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