Como todos os cozinheiros que conheço, sou um aficcionado por livros de Gastronomia. Perdi as contas de quantos eu já adquiri, ganhei de presente ou me foi deixado de herança. São minha fonte de pesquisa e inspiração. Cada um deles, desde o mais simples até o mais complexo, sempre tem algo a acrescentar.
Os livros que mais me fascinam são os antigos, conseguidos das formas mais variadas e inusitadas. Teve um livro que eu ganhei de alguém que acabara de conhecer e esta pessoa, quando soube que eu trabalhava na área, lembrou de um esquecido em algum canto de algum sótão de segredos e tesouros e me ofertou. Claro que foi aceito rapidamente, sem dar tempo a arrependimentos e hoje possui um lugar de destaque em minha biblioteca gastronômica.
Outros, a grande maioria de meus livros antigos, eu adquiro em Sebos. Aliás, sou um frequentador contumaz de Sebos. Adoro o cheiro, o ambiente, a cor, o amontoado de livros que deram sua participação por anos nas mais variadas áreas de conhecimento, além dos romances, contos e poesias. São estes, rabiscados, com páginas marcadas e sujas de dedos os que me fascinam. Se encontro algum com dedicatória, daí é o ápice.
Livros de receitas tem esta característica. Na grande maioria, eles vem manchados, escritos com a caligrafia de quem o utilizou, com as palavras da dona ou dono, explicando alguma quantidade ou tempo ou substituindo algum ingrediente. Às vezes, com um X por cima de toda a receita. Nunca saberemos se foi banida por não ter agradado ou por não ter dado certo, depois de sabe-se lá quantas tentativas.
Nestas minha peregrinações em Sebos, eu já encontrei tesouros a preço de banana. Uma das bíblias da culinária italiana, Il Talismano della Felicitá foi um deles. Encontrei em um canto, no meio de centenas de livros de receitas, uma edição de 1937. Uma das maiores alegrias que já tive. O preço? Melhor nem comentar, mas foi quase de graça.
Ter encontrado este livro foi uma sensação única, um prazer que só quem fica horas fuçando Sebos até encontrar algo assim, pode explicar. Como disse lá em cima, com as páginas amareladas, manchadas de azeite, farinha e sei lá mais o que. Você pode imaginar este livro aberto em uma grande cozinha italiana, enquanto a receita era preparada entre saias esvoaçantes? Tentem…
E foi assim, com olhares atentos nestas lojas mágicas que são os Sebos, que consegui várias maravilhas. Meu primeiro Larousse Gastronomique veio de um deles. Uma edição inglesa, de 1977. Neste caso, até recente, quando penso que o Talismano della Felicitá atravessou uma guerra inteira, até chegar em minhas mãos.
Outra maneira deliciosa de se tornar proprietário de uma relíquia assim é por herança. Não que a situação seja agradável, mas sentimos que aquilo que foi tratado com tanto carinho por vários anos, continuará em boas mãos.
Foi assim que muitos livros que pertenciam a minha sogra vieram parar em minha estante. Livros que fizeram a alegria de muitos almoços dominicais, tenho certeza disto.
Nesta leva, um deles me chamou atenção. Uma pequena caixa, com as receitas acondicionadas como fichário, datada de 1953 com uma figura de uma cozinheira sussurrando segredos a uma mocinha charmosa, parecendo um gênio saído de uma lâmpada, pronto a atender os três desejos.
As receitas vem em forma de fichário, divididas em temas, para facilitar a vida da mulher moderna da época. O título bem apropriado, Comer melhor, era a promessa de uma mesa diversificada e pronta para arrancar suspiros de todos.
Além das fichas, ainda acompanha de quebra um livreto índice, com dicas de etiquetas, nutrição, tabela de conversões, entre outros segredos imprescindíveis para cozinheiros.
Mas se pensam que parou por aí, leiam isto, extraído do velho livro:
“Não há índices complicados e nem a necessidade de se ter um livro aberto, cheio de marcas, para execução do cardápio preferido. Escolhidas as receitas a preparar, são elas retiradas do fichário e levadas à copa ou à cozinha para serem executadas, juntamente com a ficha de proteção de celulóide.”
Sim, as marcas tão amadas por mim e detestadas pelas donas de casa mais organizadas, estavam com os dias contados.
A autora é Dona Estela. E pasmem, leitores do OBA Gastronomia. Pesquisando sobre Dona Estela, descubro que é mãe de uma pessoa que admiro muito: Frei Betto.
Um presente assim teria de ficar em um lugar de destaque. Hoje, enfeita meu salão. Traz para dentro de meu ambiente preferido aqui em casa toda a alegria de cozinhar que minha sogra ostentou e se orgulhou enquanto viva. Coisas assim, não tem preço.
De minha parte, continuarei a frequentar Sebos atrás do que considero tesouros únicos. E claro, aceitando e recebendo presentes assim, que tanta alegria deram a seus donos. Por aqui, continuarão com sua mágica.
Sensibilidade…esta sua característica tão rara atualmente, faz com que se dê valor a pequenas coisas como estes livros. Qualquer dia te mostro os meus queridos…Beijo!
gostaria de saber onde comprar o fichario culinario comer melhor em Curitiba
Rosali
Procure o Guia Delivery, da Gazeta do Povo. Vai encontrar muita coisa lá. Obrigado pela participação.
Olá,..como posso adquirir as fichas 102 e 146? Assim, eu completaria a coleção de minha mãe e a faria muito feliz. Ela ganhou essas receitas de presente de casamento da minha avó.
Olá, Gilmara
Tente procurar em sebos. É o único lugar que imagino que tenha.
Obrigado pela participação e um abraço!
Olá Orlando,
Minha irmã Gilmara te escreveu tempos atrás sobre as fichas 102 e 146 que faltam nas receitas do Comer Melhor. Seria possível você nos enviar cópia via email? Ficaríamos eternamente gratas.
Abraços Jane
Oi Orlando, estava pesquisando sobre uma caixa antiga de receitas e acabei encontrando sua publicação. A sua caixa é de madeira ou papelão?
Olá, Cecilia
A minha caixinha é de papelão. Obrigado e boa sorte na pesquisa.
Pras minhas fichas customizei uma caixa que ficou linda💖
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tenho uma coleção de 1967. quanto sera que vale? vou anuncia los…