A casa da praia comporta o descanso e o necessário. As paredes já foram mais coloridas, ou eu via assim, porque era criança. Meu filho mais novo, pulou de alegria quando a viu, talvez as cores se mostrem pra ele como se mostravam pra mim. Choveu o dia todo, e os jogos estavam no mesmo lugar de 20 anos atrás. A TV ficou em silêncio, como sempre. Lembro de perguntar várias vezes para os meus tios, qual era a função dela ali. Eles também não sabiam. Num lugar onde a vida vai e vem, lenta, balançando, caminhando, arrastando os pés da areia para a espuma da onda, a TV parece mesmo não ter importância. As crianças mal tocaram nos celulares desde que chegaram, e acho que essa noite vão pedir um edredon. O sol deve estar precisando de férias também. Sumiu logo depois das 10 h e não voltou. Ouvi dizer, que há tempos ele não sai pra dançar e namorar, e que pouco fica em casa para, por exemplo, poder cozinhar. A cozinha aqui da casa é linda, o sol ia gostar. Aqui as cores não mudaram. Tudo é exatamente igual. O suco de maracujá e mamão, sei lá quem inventou essa combinação. As panelas de barro fazendo papel de fruteiras e a cesta, a cada ano mais cheia de conchas. A ilha, e as banquetas para os curiosos e apressados, que no meu imaginário infantil trazia todo aquele mar aqui pra dentro e a mesa, que embaixo, foi toda assinada. Se a tia não sabia, agora descobriu. Quanta gente vinha pra comer a moqueca, o sorvete, o caranguejo. Quanta gente ia embora feliz e bronzeada. Quanta gente voltava. A vida renovada. 

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