Acontece por vezes que observando a cozinha das pessoas somos apresentados a poesia do cotidiano e então percebemos a relação que existe entre uma janela quebrada e frutas que acabaram de ser colhidas. A luz que entra pela janela, parece um aceite, como se o dia dissesse: aproveita-me!
Frutas recém colhidas perfumam a cozinha, que também é sala, que há tempos não recebe amigos, mas que é sem dúvida, o coração da casa. Pulsante, vibrante, cítrica!
A realidade nos ultrapassa e tudo o que sabemos não é capaz de explicar os laços criados pela poesia do dia-a-dia numa cozinha.
A primeira coisa que as pessoas fizeram quando a pandemia começou foi as pazes com a cozinha. Voltaram os sentidos para o casulo, para o primordial. É impossível afirmar que a partir daí, todo mundo vai preparar as refeições em casa, mas parte do prazer em cozinhar foi recuperado.
Charles Simic, poeta iugoslavo, dizia que quando nossas almas estão contentes, falam de cozinha. Eu diria que falamos de cozinha e cozinhamos também para curar tristezas.
Durante a pandemia ganhei e experimentei muitas receitas, quase que semanalmente fui presenteada com frutas, verduras frescas e comida caseira, tem sido uma delícia ser alvo de tanto carinho e cozinhar. Eu não sou a única. Como viram aqui no site e nas redes sociais do Oba Gastronomia, 40 cozinheiros contaram os segredos de suas receitas mais queridas no “Cozinheiros da Quarentena”, livro escrito por Dante Mendonça e Eduardo Sganzerla, com curadoria do Orlando. Aqui no site vocês encontram todas as informações sobre o livro.
Com janela quebrada ou não, a luz que entra nas cozinhas durante esse tempo é poética, vamos aproveitar!
Semana que vem eu volto pra contar qual a minha playlist pra hora de cozinhar!