Dia 1 de abril foi liberada a venda do pinhão, a semente do Pinheiro-do-Paraná. Daqui até o começo do inverno, esta sementinha maravilhosa vai acompanhando o frio que chega, aparecendo em esquinas e nas mesas de quem tem a sorte de estar onde ele aparece.
A Araucaria angustifolia – também conhecida como pinheiro-do-paraná ou pinheiro brasileiro – é a árvore que produz o pinhão. O pinhão se forma dentro de uma pinha, fechada, que com o tempo vai-se abrindo até liberar o pinhão. Nas pináceas (a exemplo do Pinus elliottii), as sementes são dotadas de uma película, como uma espécie de asa, que se descola da pinha madura e possibilita que as sementes sejam espalhadas pelo vento, iniciando-se assim o processo de crescimento de um novo pinheiro.
A pinha atinge proporções razoáveis, constituindo-se de uma esfera compacta com diâmetro entre 15 e 20 centímetros.
Nos meses de maio e junho, no tardar do outono do hemisfério sul, as pinhas estouram’ ao sol do meio-dia, possivelmente como reflexo da dilatação após a manhã fria. Com o estouro estes pinhões espalham-se num raio de aproximadamente cinqüenta metros a partir da planta mãe. Mas, apesar de engenhosa, esta não é a principal forma de disseminação desta notável planta. O homem e os animais que se alimentam desse pinhão também atuam no transporte e disseminação das sementes. Os serelepes costumam armazenar os pinhões, enterrando grande quantidade de sementes no solo. Essas sementes acabam sendo esquecidas e assim geram novas árvores. Apesar da crença de que a gralha-azul dissemina o pinhão, na verdade são os pequenos roedores terrestres os principais vetores.
O pinhão mede entre cinco e oito centímetros, e tem a forma de uma cunha cuja casca recobre a massa compacta e altamente energética da semente propriamente dita.
Por seu gosto característico e pela presença regionalizada, o pinhão é muito apreciado no sul do Brasil (no Paraná, que possuí reconhecidamente a maior área de araucárias do país, o pinhão é símbolo estadual, sendo o estado sulista conhecido com a “Terra do Pinhão”) e também em alguns estados da região sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde ocorrem alguns focos de araucária.
Em Santa Catarina o pinhão é talvez a comida mais típica do estado, sendo consumido assado ou cozido, destacando-se alguns pratos, como a paçoca de pinhão e o entrevero. O mesmo acontece no Rio Grande do Sul, estado em que o pinhão é tradicionalmente consumido nos meses de outono e inverno. No Paraná, estado cujo símbolo é o pinhão, são feitos os doces de pinhão, frango ensopado com pinhão, sopa de pinhão, cordeiro ao molho de pinhão e outras iguarias paranaenses. O pinhão é também apreciado como aperitivo e em várias sobremesas. Existem até mesmo diversas “festas do pinhão”, que são festivais culinários que se realizam em uma boa parcela das cidades do interior do estado, onde há grande ocorrência de araucárias.
Além de ser utilizado como ingrediente em alguns pratos, o pinhão pode ser consumido de forma isolada, normalmente assado ou cozido. Tradicionalmente, o pinhão era sapecado no chão do campo em meio às próprias grimpas da araucária.
Embora no passado o pinhão tenha feito parte da dieta dos índios Kaingang, a coleta para o consumo humano não é recomendada e é até coibida em algumas épocas e locais. Isto ocorre porque os animais silvestres necessitam do pinhão como suplemento alimentar, para enfrentar o inverno. O grande consumo humano poderia portanto prejudicar a perpetuação dessas espécies animais – assim como a da própria araucária. (Wikipedia)
Posso dizer sem errar, que algumas de minhas melhores recordações estão ligadas ao pinhão. Se fechar os olhos, posso ver a cozinha de minha avó, com seu enorme fogão a lenha funcionando de manhã até a noite e vários pinhões assando lentamente em sua chapa. Posso sentir o cheiro que tomava a casa toda, escutar os pinhões estalando com o calor e lembrar até do pedaço de tronco de madeira onde os abríamos.
Posso lembrar de meninos andando pelo mato gelado, catando sapés e pinhões caídos, o “pinhão catado“, juntando-os no chão com o sapé por cima e colocando fogo em tudo, para fazer uma “sapecada“. Quando o fogo apagava, catar os pinhões queimando as mãos, sentar e abri-los com uma pedra para comer como se fosse a última refeição na Terra. Só quem teve o privilégio de passar a infância em uma cidade pequena do interior daqui do sul sabe do que falo.
Quando começo a ver pinhões sendo vendidos por aqui, todas estas lembranças me voltam. É como se o tempo parasse lá em Teixeira Soares, onde passei parte feliz de minha vida. O frio de lá era intenso, mas diferente do frio daqui. Hoje já não vejo os dias frios com a alegria que via os de lá. Mesmo com a água do tanque congelada de manhã pelas geadas, os dedos doendo com o frio, os lábios partidos, aquele era um frio alegre. Nenhuma tristeza passava pela mente, e se acaso passasse, sempre tinha o alento do pinhão.
Agora, daqui até meados do inverno, é hora de aproveitar esta semente maravilhosa. Tão maravilhosa que parece que cada uma tem seu sabor próprio. Aproveitar da maneira que mais adoro, na chapa, seja do fogão ou em uma panela de ferro, até que pareçam queimar. Depois, é só bater para abrir e deixar uma saudade gostosa tomar conta de tudo.