Eu, Maria Callas e muitos de vocês temos uma mania em comum: somos acumuladores de receitas. Uma vez ela disse que “cozinhar bem ė como criar. Quem gosta de cozinha também gosta de inventar”. Só me explica, primadonna, por que tantos recortes, cadernos antigos, sem falar na coleção de livros?! O que dirão de mim, La Callas, quando souberem que precisei de um dia inteiro para juntar os muitos cadernos e recortes e organizar a pequena coleção? Uma tarde de conversa com caligrafias de pessoas amadas, e a minha própria, logo que comecei a escrever.
Todas aquelas receitas que minha mãe testava, meu pai escrevia e eu classificava. A mãe não errava, porque o erro virava coisa melhor. A mãe sabia que mesmo que uma receita parecesse loucura daria certo. A mãe me deixou errar todas as vezes que eu quis e até hoje reclama quando eu não lavo a louça. A mãe merece ver todas as receitas publicadas. Saber para onde cada uma delas me leva. Ela precisa saber que eu deixava a louça pra poder escrever. E a caligrafia do pai, que coisa mais linda!
Nenhum dos livros da minha coleção tem receitas como aquelas: cerveja feita em casa, torta de natas, licor de butiá, melhor bolo de chocolate classificado por mim com pelo menos dez corações, toalha felpuda, pão de ló licoroso, torta de banana, peixe à moda do capitão, salada de polvo, casquinha de siri… Será que com La Callas também era assim? Gostar de uma comida e ir logo pedindo a receita? Revirar recortes pra matar uma vontade de sei lá o quê? Guardar tudo achando que teremos tempo de fazer? Pensar em gosto bom para melhorar dias ruins? Folhear os cadernos, e só sentir o cheiro do rosbife selando e o gosto das batatas coradas na boca. Nos dias comuns a fritada, a sopa, que eu uma vez fiz voar sem querer. A feijoada de palmito. Acabei de me dar conta que tem muito mais…
“A mãe não errava, porque o erro virava coisa melhor.”
Lindo! ❤
Obrigada, Alonso! Muito obrigada!