Tinta verde
Querido diário. Saí usando sapatilhas de lacinhos. Aprendi, de novo, que quando a gente está morto de pressa, o mundo está relax e não tem hora para nada, demoram mil anos para atender a gente no balcão e checam nosso RG 987572645 vezes, porque temos essa estampa de traficante internacional. Eu tava triste, mas Andréa Kogan me ensinou que, em algum lugar dessa cidade existe mesmo uma tartaruga chamada Relâmpago, o que encheu meu coração de alegria. E comprei uma caneta verde, o que me fez ficar ainda melhor. Sei que a verdadeira felicidade não está no pérfido mundo do consumismo desenfreado, esse braço armado do capitalismo selvagem, mas defendo, Querido Diário, que as pessoas que escrevem com tinta verde são mais felizes. É como se a tinta verde fizesse deste um mundo mais gentil. Busquei o que tinha de buscar, abracei Camila, Paulo e Ana, não resolvi a treta do i-token e saí do banco fula da vida (mas pensei em Relâmpago e me acalmei). Vi um pedaço da defesa da Cam (precisei sair no meio) e uma senhora da banca citou o Agamben. Acontece, Querido Diário, que um dos meus pavores sobre a aula que vou dar em Goiânia (são dúzias de pavores) é que não sabia pronunciar o nome desse cara. Mas como eu estava gravando, tenho a pronúncia dela e agora é só ouvir mil vezes a fitinha do celular e decorar a pronúncia. Veja você, Querido Diário, tem sempre um jeito nesta vida. Tomei cacacola com Maloca, vi a cidade (eu nunca vejo a cidade), andei com um motorista de táxi que canta os sambas do Chico Buarque a plenos pulmões (fiquei morrendo de vontade de cantar junto, mas me senti muitíssimo envergonhada, que é como eu me sinto quando tenho que cantar na frente de alguém), tomei canja com Maliu, aula, banho, bananinha passa, e agora vim trabalhar. Como você vê, Querido Diário, foi um dia cheio de aventuras. Descobri também que o mundo está cheio de pessoas que nunca pedem desculpa de nada, para contrabalançar a existência de gente feito eu, que pede desculpas o tempo todo.
Um beijo da sua F.