O rio que fazia uma volta 

atrás da nossa casa 

era a imagem de um vidro mole… 

Passou um homem e disse: 

Essa volta que o rio faz… 

se chama enseada… 

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro 

que fazia uma volta atrás da casa. 

Era uma enseada. 

Acho que o nome empobreceu a imagem. 

Manoel de Barros 

Por causa desse poema lembrei de alguns termos que meus pais usam e que são considerados errados ou cafonas. Eles estudaram muito pouco e não tem o hábito de ler, e quase toda gente que conheço da mesma época usa os mesmos termos. Acho que houve uma mistura do que restava das línguas de origem com o sotaque que adquiriram com o tempo. E depois tudo se misturou às expressões que já eram usadas aqui no Paraná. Me pergunto se, naquela época, quando uma criança falava uma coisa errada, que era também engraçada, não lhe davam o direito de explorar aquela imagem. A palavra ou a definição ia formando o imaginário e se tornando parte do que eram, da história da família. Era um tempo de se contar e recontar histórias, as pessoas se encontravam com esse fim. É só reparar, as famílias têm seus termos, suas voltas de rio, que se misturam às histórias engraçadas e as lembranças familiares. Dos termos, alguns vou lembrando, me aparecem como um afeto resgatado no meio de tantos dias vividos, e outros, são unânimes, como o “desvejo” da minha mãe. Das lembranças embaladas com papel manteiga, tem a das tardes de sábado. A mãe, como eu já contei aqui, é muito organizada, e deixava absolutamente tudo pronto para o final de semana: casa limpa, comidas, programação, tudo. Com tanta organização, nos sábados que ficávamos em casa sobrava tempo. 

Perto do fim da tarde ela dizia: “estou com desvejo de… de… “ (só pra gente responder) E aí tínhamos “desvejos” também, de pipoca doce, cachorro quente, bolo, sequilhos Ah! Os sequilhos da minha mãe! A receita era de um livrinho da Maizena, quem lembra ou tinha? Vou deixar ela aqui pra vocês. 

Um dia, na escola, a professora me corrigiu: “É desejo!” 

A palavra, dita assim, cheia de pompa, certinha, só não empobreceu a imagem, porque os sequilhos eram muito bons e nós adorávamos nossas tardes cheias de “desvejos” 

Sequilhos 

Ingredientes 

500 g de amido de milho (maisena) 

250 g de manteiga 

2 gemas grandes (se for pequena coloque 3) 

1 xícara (chá) de açúcar 

Modo de fazer 

Coloque metade do amido de milho em uma tigela. 

Acrescente o açúcar, a manteiga e as gemas e misture. 

Dê o ponto com o restante do amido de milho até ficar uma massa 

homogênea e que solte das mãos. 

Depois pegue pequenas porções de massa e formando bolinhas. 

Coloque em uma assadeira untada com manteiga ou forrada com papel 

manteiga (eu faço assim). 

Marque as bolinhas, apertando-as com um garfo. 

Leve para assar por uns 10 a 15 minutos. 

Assim que os biscoitos dourarem embaixo já pode tirar. 

Deixe esfriar e retire da assadeira. 

Depois de frio guarde em um pote com tampa. 

  • Rende uns 150 sequilhos. 

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