Os colos da Fal.
Fal Azevedo sempre emocionante!
Colo
Tinha vezes que eu chegava à chácara da minha avó Cidona (em Dois Córregos, no interior do estado de São Paulo), descia do carro e … estava na cara, no olhar, nos ombros arqueados, na voz rouca. Eu precisava de colo. Minha avó me beijava (e olha que a velha não era muito de beijo) e ia fazer meu colo favorito: mingau.
Tem aqueles dias em que não adianta: você quer colo, você quer conforto, você quer cafuné. Você não quer ser essa mulher-moderna-de-comercial-de-absorvente, você não quer ser uma “guerreira”, “aquela que batalha”, “aquela que resolve tudo”. Você quer ser, sim, transportada para um passado mais simples, você quer ser uma pessoa sem problemas e sem grandes expectativas, você quer apenas segurança, calor e a ilusão breve, breve, de que está tudo bem, o mal sempre perde e de que nada mudará. Você quer uma Comida-de-Colo.
Nina Horta, no seu livro “Não é Sopa”, define isso magistralmente: “… é aquela que consola, que escorre garganta abaixo quase sem precisar ser mastigada, na hora de dor, de depressão, de tristeza pequena.”
É isso. A Comida-de-Colo aparece quando não se quer (e nem se pode com) nada muito quente, muito frio, muito doce, muito amargo. Comida-de-Colo é aquela que está ali, como um amigo querido, cuja presença silenciosa acalma, ampara. Nada de ingredientes complicados, listas de supermercado, horas e horas de preparo, escolha de vinho, nada disso.
E, outra coisa, nessa categoria de comida de colo, como em quase tudo na vida, aliás, cada um, com seu cada um. A jornalista Natascha Maranhão, gosta de (pasmem vocês) macarrão frio, para se sentir segura e protegida. A advogada e escritora Cam Seslaf me escreve dizendo preferir: “Cabelinho-de-anjo com bastante manteiga e queijo ralado por cima, debaixo das cobertas, de preferência. Não falha quase nunca.”
Já esta vossa amiga, agora que perdeu a avó e não encontra quem lhe faça o mingau perfeito, busca refúgio e abrigo das intempéries num bolo materno e no manjadíssimo pudim de leite, quando a crise é pequena e dá tempo de preparar.
Quando a coisa é feia e o tempo urge, eu mamo numa lata de leite condensado mesmo, e estamos conversados.
PUDIM DE LEITE CONDENSADO CLÁSSICO
Ingredientes
1 lata de leite condensado
1 lata de leite integral
3 ovos inteiros
Para caramelizar a forma:
6 colheres (chá) de açúcar
Como fazer
Eu bato o leite condensado, o leite e os ovos no iquidificador. Aí, caramelizo uma forma de pudim com o açúcar. Asso em banho-maria, em temperatura média, prestando atenção no seguinte: é preciso que o pudim esteja firme, douradinho, mas não muito duro, porque depois de esfriar ele endurece mais um tiquinho.
Carol ainda não teve coragem de conhecer o leite condensado, e olha que eu ofereço sempre, risos.
Na hora do aperto eu mando ver no brigadeiro de panela – e o aperto anda grande porque ando fazendo toda semana…
Nunca mais uma comidinha-de-colo…
Muuuito bom o texto da Fal, como ela sabe dizer estas coisas da alma!!! E o Pudim, nham, nham! Vou fazer hoje! AGORA!!!
Ahhh, adorei 🙂
bjo