Ano Novo.
Nada como começar 2011 com a Fal Azevedo.
Ramon
Você já se acabou de comer tender, peru, lombo, pernil, farofas variadas, quindão, lula ao vinagrete, churrasco, panetone… você já se acabou de beber caipirinhas, caipiroscas, cana, o vinho ordinário que seu cunhado deu, espumante vagabundo, uísque genérico e cerveja. Muita cerveja.
Você já distribuiu entre os seus entes queridos os presentinhos comprados na loja da coreana, que só vende muamba. O único presente “de verdade” que você tinha pra dar era um livro peba, um best-seller daqueles que figuram nas hediondas listas das revistas de circulação semanal. O tal livro foi embrulhado e dado pro seu sogro, pra fazer aquela moral com o cretino. O cretino quase morreu de apoplexia quando abriu o pacote e viu que era o mesmo livro que ele havia lhe dado ano passado, até com a dedicatória, olha lá.
Você já ganhou gravatas inomináveis, baciadas de meias sem personalidade e um incrível prendedor de gravatas, em formato de cavalo, do primo da sua mulher, ele mesmo um equino.
As mulheres da sua família já mergulharam naquele maldito ponche de pêssego, e assim, você já viu sua mãe de fogo, sua sogra de fogo, sua mulher e suas primas de fogo, e sua tia Dinah, também devidamente alcoolizada, se abanando com a camiseta e provando que seu tio Geraldão não tem do que se queixar.
Você já encheu o saco na festinha de confraternização da firma e chamou o Freitas, da contabilidade, de camelo. Posto que o Freitas é genro do dono e deve ser promovido à gerência em dois ou três anos, ponha as suas barbas de molho.
Você já ficou preso num engarrafamento dentro do shopping, já brigou com metade da sua família e foi ofendido pela outra metade, já chegou à conclusão (de novo) de que sua nora é uma megera e seu neto é um monstrinho, já sentiu saudade dos que se foram (certamente, se esquecendo de que eles também eram todos uns babacas), já gastou os tubos em férias, presentes e comida pros outros, já pisou em dois cocôs e inúmeros xixis feitos por “Cherry”, a poodle que sua filha pediu e ganhou de Natal, e pela qual ela jurou se responsabilizar. Hum-hum.
Você já se comoveu até as lágrimas com a peça de final de ano da escola do seu caçula, para em seguida decidir que vai matá-lo, quando descobriu que o palhaço botou um brinco no nariz.
Hoje é dia 2 de janeiro e poucas horas o separam de sua vida real, do trabalho, dos imbecis do trabalho, das notinhas para o contador e das contas; e você, sem saber se na segunda-feira para de fumar, faz uma dieta, começa a jogar tênis todo santo dia, larga a sua amante, ou ainda, se pinta o cabelo de “acaju”, muda seu nome pra Ramon e passa a gastar todo o seu salário em cubanos e camisas de seda estampadas.
Sei lá. Mas parece que a vida do Ramon é bem mais divertida que a sua.