Coisas do calor!
Um passeio pelo calor europeu e suas surpresas pontuais, pela Carol e Marcelo.
Já tem melão ? Já tem morango ? Já tem cereja? Já tem pêssego? Se a resposta é não para todas as perguntas, quer dizer que você está na Europa, o verão ainda não chegou e você está impaciente demais.
O mercado de frutas e verduras na Europa é sazonal. Ou seja, as frutas aparecem e desaparecem de acordo com as estações do ano. Na França por exemplo, a partir do mês de outubro, com o outono em plena ação, e até o mês de junho – quando o verão começa – as barracas de feiras e mercados se tornam menos coloridos e menos suculentos.
Obviamente, com a globalização e a consequente facilidade de transporte, podemos encontrar mangas, abacaxis, bananas ou limões em qualquer época do ano, mas para comer o melhor pêssego, o melhor melão, aquele tomate vermelhinho ou aqueles aspargos fresquinhos, a única solução é esperar a época certa.
Mas o tempo demora a passar, o inverno é longo, os dias são curtos e a paciência não é uma virtude de todos. Então, quando os brotinhos verdes começam a aparecer nos galhos secos e tristes, a nossa alegria se transforma em entusiasmo e o nosso olhar dirige-se para as quitandas, à procura de novos sabores. Morangos? Qual é a variedade que deseja? Maras des Bois? Gariguette? Charlotte? Ou prefere um pêssego? Plate, Pêche de Vigne? Nectarina…
Talvez um tomate? Qual deles, coração-de-boi, cereja, preto, amarelo?
Quando morava no Brasil achava exagerada a reação europeia à chegada do verão. Pensava que era apenas um monte de alemães e noruegueses pálidos procurando desenfreadamente o sol e – por que não – bronzeados avermelhados.
Mas é muito mais do que isso, trata-se de recuperar um sentimento que pensamos só existir em português, mas que está em todos nós: a saudade daquele gostinho do ano passado, de dez anos atrás, da juventude, da infância, quando comíamos essa ou aquela fruta, geralmente com alguém que gostamos muito. E nada melhor do que mais um verão para viver tudo isso de novo.