Fogão a lenha – com gosto de saudade.
Passei uma grande parte de minha infância em uma pequena cidade do interior do Paraná.
Morei com meus avós por 2 anos, e todas as férias voltava para a casa deles. De todas as lembranças que tenho, a do fogão a lenha é uma das mais marcantes. Um grande fogão no canto de uma parede, vermelho (não me perguntem porque), feito sabe-se lá por quem e tão antigo como a casa que ele aquecia.
Acordar em uma manhã gelada e sentir o cheiro de café, pinhão, pão com banha, misturado ao aroma de lenha queimando, é uma coisa para não esquecer jamais.
O fogão era o coração da casa, e acho que por extensão, o coração de minha avó. Era nele que as panelas ficavam dançando de um lugar para outro, procurando o calor exato para cada preparação. Comida de interior, comida nada light. Quirera com costeletas, torresmo, virado de feijão, mingau-de-bugre (uma sopa que ainda hei de encontrar a receita), bifes e ovos passados diretos na chapa, a galinha assada de domingo…e o cheiro tomando conta de toda a casa.
Uma grande chaleira com água sempre quente em um canto, um bule com café em outro e minha avó na frente do fogão, cuidando para o fogo não apagar. Existe lembrança melhor? Pode até ser que sim, mas para mim, é o que de melhor poderia ter acontecido na vida de um menino dos 6 aos 14 anos.
A cozinha era a sala da casa, onde as visitas ficavam, principalmente em dias frios (comuns naquela região). A lenha era guardada em um caixote com tampa, que fazia as vezes de banco e, muitas vezes de cama para mim, cansado das brincadeiras do dia nas matas da cidade.
Foi um tempo lindo. Tempo de todos os cheiros, tempo do assoprar de minha avó ao acender a lenha, do crepitar do sapé e dos estouros dos pinhões na chapa quente do velho fogão. Tempo que a lembrança merece a emoção que sinto ao escrever sobre ele.
Hoje a casa já não existe, meus avós já partiram e o fogão vermelho virou pó. Mas, estas lembranças ficarão para sempre em em meu coração.
Quando acendi pela primeira vez o recém adquirido fogão a lenha, tudo isto veio a tona. Uma sucessão de slides passando em meus olhos, como se o que passou tivesse sido mês passado.
Não entendo porque não coloquei um fogão destes em meu espaço antes. Fogão para fazer comida sem pressa, olhando tudo acontecer. Fogão onde as pessoas se servem diretamente nele, no meio da fumaça dos alimentos sempre quentes.
Não é um fogão mandado fazer. É um fogão comprado,com marca e a metade do tamanho do fogão vermelho. Porém, é um fogão que com certeza, trará o carinho de minha avó ao cozinhar para perto de mim, toda vez que acendê-lo.
É com esta saudade gostosa que divido com vocês a alegria de ter meu fogão a lenha. Daqui para frente, muitas das comidas que aparecerão por aqui serão preparadas nele. Sem pressa, sem atropelos, escutando cada barulhinho de lenha queimando, adivinhando o ponto pelo aroma da panela.
A fogo lento, como deve ser a vida!
Que coisa linda… Fogão a lenha é lembrança da casa da minha bisavó, no interior de Goiás. A lembrança não morre nunca !
Fogão a lenha é tradição concreta. Fora que o sabor agregado no prato final é muito superior!