Maravilhosa simplicidade em uma Ode ao Pão.
Açorda Alentejana é uma das coisas mais simples e deliciosas do mundo.
É incrível a capacidade dos portugueses de transformar os mais simples ingredientes em verdadeiras obras de arte da gastronomia. Assim como o Caldo Verde, esta magnífica herança eterna nos deixada pelos lusitanos, a Açorda Alentejana é uma daquelas comidas reconfortantes e inesquecíveis. Não é a toa que foi eleita uma das 7 maravilhas da culinária do nosso país irmão.
Uma simples sopa, com um líquido transparente abundante e marcante, capaz de aplacar qualquer tipo de fome ou melancolia. Daqueles mistérios que só determinadas comidas possuem: a chave do sentimento.
Esta sopa pode, assim como o humor, tomar outros sabores, outras direções. Tudo muda se a água que você utilizar para escaldar os demais ingredientes, tenha sido usada para cozinhar algum peixe, como bacalhau ou uma pescada, por exemplo. É assim com lembranças, com momentos, com atos. Assim com a vida. Tudo depende da água em que a cozinhamos, do sal que colocamos e sentimos.
Esta sopa maravilhosa não poderia ter como guarnição outro ingrediente que não fosse o pão. Todo o milagre da transformação em nossa frente. A comida mais viva que conheço. Algo como a lagarta e a borboleta, no sentido de fim e recomeço. Uma lição de vida.
Esta receita leva coentros e poejos (hortelã). Você pode, como fazem em Portugal, optar por um ou outro. Se preferir, fazer uma mistura das duas ervas. Pode também incorporar outros ingredientes, como ocorre em todo o país do Tejo. Açorda, assim como a vida, aceita surpresas.
INGREDIENTES (4 pessoas)
500 g de pão amanhecido
1 ramo de coentros
1/2 ramo de poejo (hortelã ou menta)
3 dentes de alho
4 colheres (sopa) de azeite de oliva extravirgem
4 ovos
2 litros de água
1 colher (sopa) de sal grosso
PREPARO
Corte os pães em fatias de 2 cm de espessura. Prepare os ovos para Pochê, retire com escumadeira e reserve.
Coloque as ervas, o alho e o sal em um pilão e soque até obter uma pasta. Coloque esta mistura nos pratos, regue com o azeite e despeje água fervente. Mexa bem e prove o tempero com um pedaço de pão.
Distribua as fatias de pão sobre a sopa e sirva quente.
Feche os olhos, ligue um CD do Madredeus, abra seu coração e tome devagar.
Se a vida tem sabor, é este.
Adorável. Não sei dizer o que me encanta mais, se a receita ou as palavras que a acompanham. Conseguimos viajar nelas e chegamos a sentir até o seu aroma flutuando ao nosso redor.
Parabéns, como sempre.