Uma avó, uma tigela e tempos modernos!
Fal Azevedo enfeitando o OBA.
Nonna Thereza
Observo, apavorada, programa de tevê atrás de programa de tevê, onde moços lindos e moças apetitosas, raspam superfícies anti-aderentes com utensílios de metal, jogam travessas de qualquer jeito sobre o balcão, lavam talheres e peças de plástico com o lado duro da esponja ou, credo, com Bombril.
E penso na minha bisavó. Nonna Thereza.
Ela veio de longe. De Florença, na Itália, num tempo em que a Itália ficava muito mais longe que hoje em dia.
Ela veio para o Brasil fugindo da fome, da miséria, da morte quase certa. Ela veio trazendo os filhos, umas poucas roupas e uma tigela.
Uma tigela branca, lisa, simples, embrulhada num xale e acomodada no colo da velha fez todo o percurso Florença – Jaú, viajando a pé, a cavalo, de navio e de trem. Chegou intacta. Sem uma lasca. E essa tigela foi da mãe da mãe da Nonna Thereza. Faça as contas.
Minha mãe, dona atual da tigela, cuida dela com fervor religioso. Lembra dessa sua avó com tanto carinho e chora um bocadinho de saudade, quando conta pralguma visita a sensacional jornada da tigela e mostra que o esmalte, por dentro, está fosco e gasto, graças aos milhares de garfos que ali bateram incontáveis claras em neve, graças às florestas que colheres de pau que ali prepararam a massa dos bolos mais perfeitos. A tigela mora num lugar de honra na sala da minha velha, numa gloriosa aposentadoria.
De volta ao meu programa de tevê, o cozinheiro bonitão e cheio dos sotaques, liberta o bolo recém-assado de uma assadeira de teflon usando o que pra afrouxar as beiradas? Claro, uma espátula de metal.
Que desgosto.
Um moço tão lindo.
Todo esse descaso é sinal inequívoco que esse moço nunca teve uma tigela que preste.
E nem uma vó.
Gente…estou boqueaberta c esse site. Passo horas, lendo e relendo, vendo e re vendo tudo, tudo…é bom demais!!!…Parabéns por essa maravilha, esse presente p nós q sabemos admirar o q vale a pena. Bjs.