A mágica de aniversário!

Fonte da foto: http://rdeziderio.blogspot.com/

Nem preciso mais falar nada da Fal…É só emocionante!

Aniversário

 

Nasci perto do Carnaval. O que quer dizer que todas as minhas festas de aniversário foram bailes à fantasia, até eu fazer 12 anos, ter minha vida virada de cabeça para baixo e sofrer algumas perdas irreparáveis – dentre elas minhas festas de aniversário. E eu adorava minhas festas. Ah, Deus, eu adorava meus aniversários repletos de odaliscas, piratas, padres (por que tantas crianças se fantasiavam de padre na década de 70?), jogadores de futebol, domadores, reis, marcianos e bonecas. Além disso, minha mãe gentil costumava me fantasiar de palhaço, coisa que eu amava. Cada ano eu era um palhacinho diferente. A vida, senhores, era muito boa. Nossas festas tinham um mágico chamado Sandro, todo santo ano tava ele lá. Palhaços. As decorações mais maravilhosas. E, ahá, comida. E que comida.

Primeiro que antes, muito antes dessas coisas virarem moda, meu velho e saudoso pai ia ao parque do Ibirapuera e alugava os moços de carrinho de comida por um dia. Lá iam eles, os moços e seus carrinhos, servir cachorro-quente, algodão-doce, churros, sorvetes e outras barbaridades cometidas em nome da junkie food, para aquela garotada faminta e hiperativa. Além disso, queridos, eu tinha uma avó. Não uma avó qualquer, uma Avó, com “A” maiúsculo, a de “A Mais Prendada”. Nunca subestimem a importância duma avó prendada na vida duma criança comilona. A santa produzia absurdas quantidades salgadinhos e docinhos por quilômetro quadrado antes de cada festa.

– Fabinha, que salgadinhos você quer que a vovó faça pra sua festinha?

– Saugaudinho, vó.

– Eu sei amor, mas quais? De quais você gosta mais?

– Saugaudinho, vó.

– Eu entendi, meu bem, mas quais?

– Todos, vó. Faz saugaudinho?

E a santa ia lá e fazia, docinhos e “saugaudinhos” para alimentar um batalhão. E fazia os bolos também. Aliás uma de suas muy brilhantes carreiras era a de boleira. Hoje em dia, eu sei, chama “culinarista”. Mas a vida era mais simples naqueles tempos, e vovó era boleira mesmo. Para grande orgulho da família, ia gente de toda São Paulo, dos distantes bairros da Móoca e Tatuapé, de Campinas e Guarulhos e até “vizinhos” do Ibirapuera e cercanias na casinha modesta dela no Jabaquara (Jabuca, para os iniciados), encomendar os mais belos bolos de casamento que a cidade já tinha ouvido falar. Até hoje encontro com senhoras que, sabendo que sou neta da Dona-Cida-do-Jabaquara, contam que casaram “com bolo da sua avó”, ou conhecem quem casou.

Vaí daí que os senhores imaginem nossos bolos de aniversário, pois não? Os que me lembro melhor: um bolo com cara de palhaço, um coelhinho LINDO, branco, todo flocadinho que ela fez pro meu irmão e, num ano de glória, também pro meu irmão, a doida fez um trenzinho, CADA VAGÃO ERA UM BOLINHO, os animaizinhos nas janelas confeitados com glacê, um perfeito trenzinho infantil, uma delícia de ver e de comer. O “projeto” tinha mais de dois metros de comprimento, um espanto, um espanto.

Eu era feliz e eu sabia.

Tem como não se emocionar?…


Orlando Baumel

Chef de Cozinha, músico e sócio do site junto com a Carol. Casado, pai de 3 lindas garotas.

Este post tem 9 comentários

  1. Como é gostoso esse seu compartilhar lembranças! Sabe, eu também tive uma avó prendada e a sorte de uma bisavó do mesmo jeito. Sortudas que nós fomos, heim, Fal!

  2. Lan Borges

    Eu amo a Fal. Eu queria ficar horas e horas lendo essas coisas que ela escreve…

  3. Fal: voccê falava saugaudinho? A Carol fala saugaudinho Fal!!! É tão lindo!! E tão difícil…
    E a avó Fal? Que falta faz o colo da vó!!

  4. fal

    Simone, eu não sei como a gente sai da cama todo dia e enfrenta a vida sem colo de vó. Papo sério, eu não sei como. E falava não: eu ainda falo saugaudinho, hahaha
    *
    Lan, vc é uma querida.
    *
    Pati, vó é tudo, fala sério. Sortudas mesmo. o)
    *
    Isabeau, passa pra dentro.

  5. Suzi

    Fal, te odeio.
    Não bastava, não?
    Voce ainda tinha que ter Vó boleira? Eu também quero um bolo de trenzinhooooooooo….(me jogando no chão e esperneando).

  6. Sil(via)

    Ah.
    Que bom que você foi feliz assim nos seus aniversários infantis, amoli. Esse é um dos meus maiores traumas de infância, vc sabe… aniversário zero nas férias de verão.
    Meu irmão teve um bolo de trenzinho desses e eu tive um bolo de borboleta, feito pela minha própria mãe. Foi meu maior presente de aniversário 🙂

  7. Claudia Japa

    Nossa…tb lembrei dos aniversarios na minha avó. Tinha uma boleira vizinha dela que fazia esses bolos enfeitados e temáticos. Lembro de um deles que era um parquinho e a piscina era de gelatina…Ficava horas admirando os bonequinhos e os brinquedinhos! Nostalgia…

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