Feijão Zen.
Fal Azevedo engrossando o caldinho.
Você pode ter dificuldade em pensar em mim como uma pessoa zen que faz meditação e transcende a matéria, sentindo um-lance-de-energia-que-rola-muito-forte-entende. E saiba que isso me ofende. Acontece que sou zen sim, e minha forma favorita de abandonar meu eu-físico (adoro escrever sobre meu eu-físico, principalmente porque sei que minha digitadora, a doce Lígia, está às gargalhadas), e me transporta para uma dimensão mais simples é ficar aqui, paradinha, vendo o feijão que ferve e sacode a panela e faz esse barulhinho bloft-bloft e os pedaços de lingüiça que sobem e desaparecem no caldinho. Eu fumo e vejo acontecer. É algo que não depende de mim, acontece sozinho e eu adoro coisas que não dependem de mim. Eu poderia ficar aqui, num transe delicioso, sentindo esse vaporzinho no meu rosto, vendo o caldo dançar, para sempre, hipnotizada pelo óbvio, tomada pelo cotidiano, obnubilada pelo inexorável.
Mas o diabo do cigarro queima meus dedos e eu acabo sempre voltando pressa vida miserável. Enfim, adoro fazer feijão. Não gosto muito de comê-lo, mas adoro fazer.
Nada é mais doméstico, nada representa mais um lar (pelo menos aqui no Brasil), que uma bela panela de feijão fumegante. Saber fazer um bom feijão é atingir novo estágio no roll das atividades domésticas. Só os iniciados podem domar a assustadora besta de metal, a panela de pressão.
Produzir uma bela panela de feijão, sementes macias e suculentas, mas inteiras, com caldo grossinho e divinal é o ritual de passagem que bota você na direção certa para alcançar o Olimpo dos cozinheiros, é o passo definitivo rumo ao seleto grupo dos ungidos.
As pessoas se cutucarão assombradas quando você passar e sussurrarão “Ela faz um feijão daqui, ó”, a estrada de tijolos amarelos se estenderá à sua frente, e você estará preparado para um porvir suntuoso: que venham os pratos metidos a besta com terminologias esquisitas, você está preparado, oras, você é um cara que sabe fazer feijão!
Uma vez desvendadas as mumunhas do preparo do feijão, Pequeno Gafanhoto, sua vida será um mar delicioso de feijões com caldos bem temperados sobre o arroz branquinho, sopinhas de feijão pelando cheias de macarrão de estrelinhas, feijoadas carioquíssimas carregadas no mocotó, paio, orelha, toucinho e rabo e até, pasme Irmão-fazedor-de Feijão, cassoulets metidíssimos a besta, já que essa droga nada mais é que feijão branco cozido!
Sim, amigo! Vinde, vinde para o caminho da luz e da sabedoria, troque a borrachinha da sua panela de pressão (ou leve na feira e peça pro tiozinho trocar, seu inútil!) e mande bala!
Cante comigo “Feijão tem gosto de festa
é melhor e mal não faz”
(PS: você tem razão. Eu sou porra-louca demais para ser zen.)
FEIJÃO TRADICIONAL (8 pessoas)
INGREDIENTES
5oo g de feijão
1 pedaço de pele de bacon
2 colheres (sopa) de banha de porco
1 fio de óleo de girassol
3 dentes de alho bem picadinhos
1 folha de louro
Sal à gosto
1,5 litro de água mineral
PREPARO
Coloque o feijão para cozinhar em panela de pressão, junto com com a pele de bacon e o fio de óleo. Quando abrir pessão, deixe cozinhando por 30 minutos. Deixe a pressão sair e abra a panela. Aperte um grão com os dedos, para testar o cozimento. Os grãos devem estar macios, mas sem se desmanchar.
Em outra panela, aqueça a banha de porco e refogue ligeiramente o alho. Transfira o feijão para esta panela e tempere com o sal. Deixe cozinhar até o caldo engrossar.
Oi Fal! Eu sou uma péssima “fazedora de feijão”! Tento tento e nunca dá certo, e meu namorido que aguente! Mas eu não desisto! Como assim pele de bacon? Aquela parte durinha que a gente corta fora quando compra em pedaços? Obrigada, adoro teus posts! Beijos!