A Santiago da Fal
Fal Azevedo, linda como sempre…
Picos Nevados
Como todas as grandes cidades do mundo, Santiago tem crimes, prostituição, drogas a granel, assaltos, medo, solidão e dor.
Como em todas as capitais do mundo, as pessoas recomendam que você saia do hotel com pouca ou nenhuma grana, que tome cuidado, que não dê bandeira…
Como todas as capitais do mundo, ela é uma mistura de executivos bem-vestidos, executivos mal-vestidos, donas de casa gordotas, crianças, ambulantes, adolescentes arrogantes singrando as ruas em hordas rebeldes, moças altas e magras e lindas, ricos, pobres, moradores de rua.
Como em todas as outras capitais, as pessoas esbarram em você, mal olham na sua cara e são rudes, são grossas, são distantes.
Mas Santiago tem, também, uma qualidade quase rural, quase ingênua, uma cara de cidade pequena, mesmo sendo enorme, uma cara de prima distante, mesmo sendo de outra família.
Minha teoria é que o Chile, por ter tudo, permite-se mais. Talvez o fato de contar com coisas tão opostas e variadas como desertos, oceano, geleiras e cordilheira, além de ilhas como a Ilha de Páscoa, onde estão os Moais, aquelas estátuas gigantescas feitas de pedra vulcânica, permita ao visitante sentir que tudo lhe será possível, que todos os sabores serão alcançados..
Os dois estrangeiros perdidos em suas avenidas na noite do dia 31 de dezembro, olhando as luzes do Palácio La Moneda, foram beijados e abraçados como velhos amigos, como irmãos, como se aquela não fosse uma metrópole, como se as pessoas não fossem estranhas, como se houvesse uma outra vida (o mesmo La Moneda onde, anos e anos atrás, num Chile que ainda vivia sob ditadura militar, explicou papai para a menina e o irmãozinho, el compañero Allende foi cercado e morto por compatriotas e o mesmo onde lugar onde, durante essa viagem, as crianças apavoradas, viram tanques de guerras, bombas de gás lacrimogêneo e policiais dando porrada com cacetetes. “Isso é o que faz uma ditadura“, o papai lhes diria, solene, no hotel).
Ao amanhecer dum novo ano, os dois estrangeiros puderam ver os picos nevados da cordilheira dos Andes, visão que torna Santiago única dentre todas as outras capitais do mundo, e como a neve lá de cima, se sentiram eternos. Por alguns minutos houve mesmo uma outra vida.
CHARQUIKÁN
Os camponeses do Chile, como os camponeses do resto do mundo, são craques em fazer pratos cheios de ingredientes, comidas nutritivas que sujam poucas panelas.
Um deles é o Charquikán.
Ingredientes
300 ml de água
6 batatas médias, sem casca, cortadas em quatro
1 cenoura em cubinhos
300 g de abóbora em cubinhos
200 g de vagem picada
1 lata de ervilhas
1 lata de milho verde
1 cebola picada
1 dente de alho picado
4 colheres (sopa) de salsa picada
250 g de carne moída
sal e pimenta negra
Preparo:
Eu cozinho os vegetais no meio litro de água (deixando, claro, a ervilha e o milho pro final).
Noutra panela, douro a cebola e acrescento a carne moída e a salsa.
Refogada a carne, eu a misturo com os vegetais, e deixo no fogo baixinho, até que a água seque, mexendo sempre.
PICHANGA QUENTE
Todo mundo, no mundo todo, ama os bombeiros.
Ser bombeiro é ser meio santo, a gente sempre se admira da coragem deles, e acredita que num tem dinheiro que pague alguém se jogar no fogo pra nos salvar.
A Pichanga é uma comida típica da zona central do Chile. Ela é tradição nas “cantinas dos bombeiros”, que pertencem às companhias de bombeiros que existem no Chile. São as cantinas que financiamos carros, o equipamento, a manutenção dessas coisas todas. A Pichanga é uma comida forte, encorpada, pra ser acompanhada por bebidas geladas, piadas sujas e tapas nas costas.
(PS: Assim como outros irmão latino-americanos, os chilenos encaram o abacate como comida salgada, e o empregam em saladas e molhos. Coragem, é uma delícia!)
Ingredientes.
4 beterrabas cozidas e cortadas em tiras finas
2 abacates cortados em tiras
3 ovos cozidos cortados em rodelas
Azeitonas
8 batatas descascadas, cortadas em tiras grossas
3 lingüiças
4 salsichas
500 gr de carne em cubos
500 gr de couve-flor em conserva
Azeite
molho de pimenta
sal e pimenta
Como fazer
A primeira coisa que faço é fritar as batatas em óleo quente.
Daí frito a carne, as salsichas e as lingüiças.
Depois misturo as carnes, as batatas, a beterraba, a couve flor e as azeitonas, tempero (carregue na pimenta, amiguinho!).
Daí, boto os abacates e os ovos e misturo de novo.
Tire a malha de lã antes de comer, porque você vai suar.
Mas é de comer rezando.
Olá, entrei no site por curiosidade e vi o seu comentário sobre o Chile! eu e meu marido estivemos recentemente no Chile e achei as suas palavras o máximo…muito adequadas…vou acessar mais comentários seus,para não ficar boiando como estou agora!!um abraço e até a próxima!
Simone
Divino, n hei-de morrer sem ir aos Andes… Bjo querida
Que vontade deu agora de conhecer o Chile !
E Fal, acho que só no Brasil o abacate tem a ver com açucar.Eu sei que a República Dominicana e a França, por exemplo, só o consomem em pratos salgados.
Amei as receitas . Montes de beijos
Difícil. Difícil. Derrubar concepções do tipo “abacate é fruta e se come com açúcar e leite em pó”, mudar é tão doloroso. 😀
No mais, que vontade de sair correndo pro Chile, agora.
A delicadeza da sua descrição transforma o pais num lugar quase mágico e enche a gente de vontade de conhecer!
Mas, melhor conhecê-lo tendo você como narradora de tudo que nos cerca! rs