O Nordeste da Fal!

Fal Azevedo,  sempre linda e emocionante…

Querida Tela:

Sarapatel, doce de figo do quintal, papa de aveia, água Serra Branca, pão com ovo, coalhada fresca que Cardoso compra da fazenda do pai de Águeda, goiabada cascão com queijo mole, pirão de cabeça de cavala, queijo de coalho, mingau, doce de leite mole que Mabele e que Juliano come em sanduíches maravilhosos, cuscuz com ovo frito (e frito numa quantidade abissal de manteiga, Tela), pipoca cor-de-rosa com leite condensado, vitamina de banana, biscoito de maisena com chá de cidreira durante a caxumba, suco de siriguela do quintal, cachorro quente (mas o daqui, o cachorro quente do Azevedo, pão francês e carne moída carregada no cominho), doce de umbu do quintal, passa de caju, bolo de cenoura com coberturinha de açúcar, cartola, banana assada, doce de cajá, licor de jenipapo (ou como diria o Dr. Geraldo “jenipapada”), doce de leite de coalho, café com leite com Paulo Galindo, ovo recheado, goiabada cascão, macaxeira frita, guisado de bode, gemada, fruta pão, mungunzá (que é a canjica de São Paulo), milho assado, baião de dois, mocotó, tareco (biscoito doce e duro), bolo de gengibre, macaxeira cozida com mel, fanta uva, cuscuz com leite de côco – um clássico de Dona Chiquita – patê caçarola (que é um patê de fígado que depois é cozido em folha de bananeira), geléia de mocotó, biscoito de nata, bolo de goma, suco de mangaba, guisado de bode de tia Lolinha, que Cardoso e Alexandre “almoçavam antes de almoçar” aos sábados – Cardoso avisando Alexandre “Hoje a gente apanha de sua mãe”, bolo de banana para os netos, buchada de bode (bode morto no quintal, Dona Chiquinha comandando as tropas, as entranhas do bode lavadas no esguicho, com limão e força no braço), tripa de porco assada depois dos jogos do glorioso Esporte Clube Nacional (a tripa bem tostadinha, acompanhada de farinha e coca-cola), bunda de tanajura tostada e com sal (inclusive as do quintal, que Dona Chiquita banhava no formicida – nunca ninguém morreu), corinho de galinha feito torresmo, codornas muito chiques e douradas no Natal, vitamina de abacate do quintal, leite gelado de pé na frente da geladeira (o gelado dos pés no chão frio, o gelado do leite a sede, a sede), suco de graviola, Bolo Souza Leão, queijo de manteiga, arroz amarelo roubado do jantar beneficente do asilo, feijão amassado no prato de Cardoso, lagosta de São José da Coroa Grande, bolo de massa puba, rapadura que Dona Chiquita comia no tempo em que vivia no Ceará, água de côco, pão crioulo, fritada de couve-flor que eu comi até ficar doente, bife de fígado, sopa toda noite no jantar (a de Madrinha com muita pimenta machucada), peixe frito (cavala, arabaiana, cioba, xaréu, tainha, oriocó, serra, dourado (do mar), sirigado, agulha) cará, filhoses, peru recheado no Natal, macarrão com ovo, galinha de capoeira, manteiga de garrafa despejada no arroz, tia Laura fazendo doce de mamão e doce de batata doce, carne de sol de Mabele que eu comi até ficar triste, mexido de ovo com pão (o pão é estraçalhado numa tacha, misturado com os ovos batidos, tudo na frigideira com manteiga e fé), viandada Swift só para as visitas e suco de morango do quintal, filé mignon especialmente para Mabelinha, doce de banana da vovó Chiquita, limonada com limão do quintal, moela todo mundo adorava, purê de inhame para Sara que tinha a saúde frágil, amora no pé, pitanga no pé, laranja no pé, peixe cozido com dendê (Dona Chiquita mandando a maior bala nas cabeças de peixe, a família invejando a disposição da criatura), sanduíches de alho de Dona Chiquita, blusa branca (farofa feita com farinha, água, cebola, coentro e sal), arroz doce, bobó de camarão, peixada, estrogonofe, banana frita, coxinha de frango com guaraná nas idas ao médico, papo de anjo, pastel de Santa Clara, feijão de corda (vulgo xoxa-bunda), a carne de porco guisada de Beta, leite com Nescau, sardinha fresca feita bem sequinha, fava (um feijão grandão e esbranquiçado), delícia de abacaxi, fatias douradas, bolo molhadinho de macaxeira, pé de moleque (que aqui é um bolo de castanha), frango ao vinho, carne moída bem molhadinha.

Todo o meu amor

Fal

Garanhuns, dezembro de 2006 (Casa de Mabele)

Orlando Baumel

Chef de Cozinha, músico e sócio do site junto com a Carol. Casado, pai de 3 lindas garotas.

Este post tem 6 comentários

  1. telinha

    ô, meu Pai. 🙂 das coisas mais lindas e doces, a família reunida na mesa do cozido, o sorvete que nunca pegou o ponto certo pq sempre foi comido antes, gente esganada que não sabe esperar, minha mãe dizia entre os dentes, disfarçando que ela própria também comia. amor, amor, Fal, amor.

  2. Patricia Daltro

    Ai, Fal, lembrou infância na casa da Bisavó, não era no nordeste, mas no interior do Rio, mas quase sinto o cheiro de metade das coisas que você cita… O doce de leite no tacho, o leite quente saindo das tetas da vaca… Saudades…

  3. Marilda

    Nina Horta tem razão quando chama essas comidas de comida da alma! Ai ai ai, dá uma saudade…

  4. K

    Ai, adoro tudo, mesmo o que eu nunca provei. Sempre me pergunto o que ficará pra posteridade.Tudo da muito trabalho e é tão prático comprar pronto…
    A farinha da roça , milho colocado no balaio dentro do ribeirão,o cuscuz de mandioca feito na cuscuzeira de barro forrada com folhas de funcho, doce de quiabo cristalizado que por incrível que pareça é delicioso,bolinho de chuva do vovô, ah, tanta coisa, tanto sabor de outros velhos e felizes tempos…

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