Pra ler curtindo:

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Passei as últimas duas semanas zanzando por casas alheias. Bares e padarias alheios. Restaurantes e café alheios. Cheiros e sons diferentes. Temperos diferentes. Diferentes formas de armazenar, preparar, servir e arrumar a cozinha. Diferentes expectativas. Fui alimentada de formas diferentes e fui alimentada de formas diferentes em cada casa por onde passei, em cada restaurante, cada cafeteria. Estive em duas cidades, estive em vários mundos.

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As tapas da Adega Pérola com a Lili, o peixinho do L’Etoile com o Antônio, o croquete de cabrito do Nova Capela (o que é aquilo, gente ?) com a animada turma do E., a empada de camarão do Colarinho, com Fabi e seus amigos, Deh, Ricardo, Claudio Luiz e Arcondicionadinho, o café da manhã da Confeitaria Itajaí, o croquete de camarão da Le Dépanneur Delicatessen, a coxinha da padaria Real, o bife da Rita, o camarão da dona Maria José, o arroz da Pati, as esfihinhas do Pedrão. O café do Paulo. A lasanha de berinjela da Ana. Aliás, o vinagrete profissa da Ana. O risoto da Helena. O bolo de chocolate do Frigideira com Tel, Zé, Ju e amiga secreta. Os brownies da Carla, o café da Renata.

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Numa das casas por onde passei, pediram que eu cozinhasse. E cozinhei. Noutra, meu oferecimento de preparar alguma coisa foi delicadamente afastado. Fiquei na minha. Ah, cozinhas, esses territórios tão cheios de arapucas.

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Num dos lugares por onde passei, gentilmente me levaram para passear de carro, vi a cidade, vi um parque, vi bares, pessoas, lojas, mais pessoas. Adoro passear de carro. Adoro ver a cidade. A minha, a dos outros.

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Quando a revolução vier, serei a primeira na fila do paredón, mas quero dizer que odeio uva com caroço. Odeio.

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Em casa, descubro que tem coalhada. Daquelas de passar no pão. Quer dizer, existe sempre alguma coisa para me fazer feliz, é só procurar.

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Comi o que será conhecido no futuro como o pior mamão do mundo. Certeza.

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Digo que não creio em nada, mas daí provo do meu próprio patê de azeitona e começo a achar possível que exista um poder maior que nos conduz. Sério.

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Ouço vocês falando coisas como “está aberta a temporada da uva passa”, e não entendo. Aqui é sempre temporada de uva passa, seus hereges.

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Eu costumava me recuperar mais depressa. Mais prontamente. De uma maratona de trabalho. De uma viagem. De um coração partido. Dos três juntos. Bastava uma sopa, um chá, seis ou oito horas de sono, uma aspirina, talvez, e eu estava pronta. Agora, com doze horas de sono, um arsenal de remédios e uma piscina de chá, ainda parece que levei uma surra. Eu costumava mesmo me recuperar mais depressa. Do trabalho, da vida. A vida. Culpo a mim mesma, culpo a velhice e a minha falta de preparo para enfrentar o mundo real. Culpo você, lógico, suas evasivas, seus olhos castanhos estranhos, sua imensa crueldade. Minha imensa crueldade.

Este post tem 4 comentários

  1. Sunny

    Delicado. Muito delicado. Sabores. Carinhos. Aconchego e muitos, muitos elogios. Faltou bolo de banana.

  2. Sunny

    Ué deixei um comentário! Sumiram com ele ?

  3. Carolina Figueiredo

    olá! sumiu não, mas ele só aparece depois de moderado pra evitar spam! Obrigada por comentar!

  4. Adriana Borges

    Também para mim nunca passa o tempo de uva passa. Ameixa sem caroço. Manjar branco.
    E também acho que a gente gasta o tempo de se recuperar rápido ali na juventude e ele fica faltando agora, quando a gente mais precisa de tempo.

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