Casamentos.

Posto que é chama

Casamentos.

O céu.

O inferno.

A redenção.

Noivinhas em flor desmaiando de emoção enquanto seus papais sapecam cheques sem fundo praça afora.

Noivos de colarinho duro pensando melhor.

Sogras se engalfinhando por conta de seus respectivos vestidos — aproveitamos esse momento de filosofia de alto nível pra pedir que alguém nos explique porque as mães de noiva insistem naquele verde-esmeralda que, convenhamos, fica bom de verdade em poucos tipo de pele — e depois se unindo pra infernizar a vida da dona do buffet.

Demoiselles d’Honneur naqueles pavorosos vestidos de cetim rosado, levemente alteradas, não se sabe se por conta dos drinques de vodka, do excesso de laquê ou pelo fato de serem always the bridesmaid, never the bride.

Casamentos.

O horror em suaves prestações mensais.

As escolhas, as alternativas, os preparativos.

Ah, os preparativos.

Escolher cardápio, músicas, flores… e as provas do vestido?

E os testes de maquiagem e cabelos?

E a lista dos sonhados presentes, causando espanto — na melhor da hipóteses — ou ataque do coração — na pior — nos parentes, amigos e fornecedores?

Ahá, e a cerimônia? Digam aí, e a cerimônia?

Toda aquela pompa, toda aquela circunstância, dúzias de padrinhos, tias de chapéu e você sentindo o fio da sua meia-calça descer?

As crises de riso que se anunciam, os olhares lânguidos trocados entre os casais felizes, as cotoveladas entre os casais nem-tanto e, tchã-rã: a promessa de uma festa depois da cerimônia.

Sim, se esse não é um daqueles inomináveis casamentos que distribuem o famigerado vale-empadinha, ora bolas, vamos ter festa!

Casamento bom tem festa boa, saibam os senhores: o lugar da festa vem impresso no convite, todo mundo é convidado e alimentado. Afinal de contas: servimos para encher banco de igreja e não para você nos dar um reles pratinho de risoto? Tenha dó.

Bem, casamento.

Casamento é fartura.

Extravagância.

Não tem essa de cafona em casamento.

Pode tudo: salestão, decoestão, as pérolas da vovó (da sua vovó, por supuesto, que a minha era pobre), bolero de lamê, batom cor-de-laranja, sombra verde, tornozeleira, franja repicada, todas as coisas inomináveis que o homem criou.

A convenção de Genebra liberou até cabelo solto com casaco de pele em casamento, o céu é o limite.

Pode tudo, usa-se tudo, principalmente a noiva. E o cozinheiro.

Todas aquelas comidas consideradas fora de moda, em casamento pode.

Estrogonofe de frango, filé de peixe com molho de camarão (a comida mais sem imaginação da face da terra), lagarto ao molho ferrugem, coquetel de camarão, brigadeirão, bolão branco de cinco andares, salada de batatas, flûtes de champanhe com fava de baunilha dentro, minibolos decorados, dragees de amêndoas à guisa de lembrancinha ou ainda, e principalmente, os indefectíveis bem-casados envoltos em tule.

Pode tudo, caras, acreditem.

E em grande quantidade.

E, durante a festa, se solte. Dance com o garçom. Faça discursos, mesmo que não peçam. Proponha brindes. Conte fatos escabrosos da vida dos presentes, em especial dos noivos. A vez que ela vomitou na tuba do ex-namorado. A vez que ele passou uma cantada na sua mãe. Todo mundo está tão bêbado quanto você, ou mais ainda, se lance. Beije o padrinho, diga que se enganou e acredite quando a tia da noiva disser que te beijou por engano também.

Se a recepção for num clube, e piscina houver, caia na piscina. Puxe o pai da noiva lá pra dentro quando ele tentar te resgatar. Ah, você tem marido ou mulher que faz a linha “você está passando dos limites”? Largue em casa, pro diabo.

Deu pra perceber, adoramos casamentos. Somos as únicas pessoas do universo que nunca saem da festa falando mal. Gostamos de todos, de todos os estilos, em todas as religiões. A cerimônia, a festa, as luzes. As flores, as crianças, os brindes. Adoramos crer, pelo menos por aquelas horinhas, que tudo é, mesmo, possível.

Que o amor existe e dura.

E que “para sempre” acabou de começar.

E para comemorar, uma lista das comidas mais cafonas, deliciosas, gostosas de fazer.

LAGARTO AO MOLHO FERRUGEM

Ingredientes

1,5 k de lagarto

100 g de toucinho defumado ou cubinhos ou pedacículos

2 colheres (sopa) de óleo

2 cebolas picadas

4 dentes de alho amassado;

1/2 xícara de purê de tomates;

1 xícara de vinagre;

Sal e pimenta a gosto

1 colher (sopa) de farinha de trigo.

Preparo

Bonito seria eu dizer que dou uma bela limpada na carne, mas deus sabe que é mentira: Seu Lúcio, o mais charmoso dos açougueiros da Vila Sônia, limpa a peça pra mim, hahaha. Eu faço uns furinhos na bicha e introduzo os pedacículos de toucinho nas aberturas.

Daí, no óleo previamente aquecido, numa panela de pressão e douro a carne.

Daí, junto o resto dos ingredientes na panela, boto a água até cobrir a carne e deixo ferver.

Só daí, tampo a panela e deixo a bichinha lá por uns 50 minutos, talvez uma hora.

Uma hora depois, tiro a tampa da panela e deixo o trem lá, em fogo baixinho, engrossando.

Ah, sim, tenha religião, NÃO engrosse o molho com farinha de trigo.

Caras, tem uns negos que botam maionese no molho ferrugem. A forca é muito leve pra essa gente sem vergonha na cara. E tem uns negos que usam filé mignon em vez de lagarto. Bão, como eu não tenho tanta bala na agulha, uso lagarto mesmo. Se você tiver podendo e gostar, mande bala no filé miau. E me chame pra almoçar, faz favor.

COQUETEL DE CAMARÂO

Ingredientes

Maionese (mais ou menos 500 gr. para cada quilo de camarão)

1 limão

Sal

Pimenta do reino

Salsinha

Mostarda

Vodka

Páprica

1 quilo de camarões daqueles petiticos.

Um pouco daqueles camarões grandes, se for o caso e isso não for dar um ataque de coração no seu gerente do banco.

Vamos lá pra polêmica. Eu faço maionese em casa. Sim, sim, sim, eu não uso a do vidrinho. O que não significa que você deva fazer o mesmo, pelo amor de deus. Eu não me responsabilizo pela sua maionese caseira, só pela minha.

Bom, eu junto à maionese, venha ela de onde vier, sal, pimenta do reino, limão, salsinha picada, páprica, 3 colheres de mostarda e três colheres de vodka. Aí, eu cozinho separadinho, sem água, só no bafo, os camarões com um pouquinho de caldo de limão, azeite, sal e  pimenta.

Os pequetiticos, depois de frios, eu misturo no molho de maionese. Boto num pote bonito e decoro com os camarões grandes. É brega, é cafona, é delicioso. Me convide pra isso também.


Orlando Baumel

Chef de Cozinha, músico e sócio do site junto com a Carol. Casado, pai de 3 lindas garotas.

Este post tem 9 comentários

  1. @vivisionaria

    Ai Fal,

    mto bom,tenho um parente q só comparece a casamentos se ganhar o vale empadinha,hahahaha.
    Adorei o vale empadinha,só vc mesmo Fal!!!!

  2. Faaaal:
    e a noiva vestida de baiana? Tem coisa mais triste que arrastar aquele saião com veú e tudo?
    Amei!!!
    Bjs

  3. Cláudio Luiz

    Falzita, vc é mesmo o máximo.

  4. Paula Clarice

    Adorei!!

  5. flavia

    Ai Falzinha, meu lagartinho ficou meio durinho!!! Que que eu fiz de errado?!?!?!
    Mais o molho ficou bão……bjimmm

  6. Isa

    que delícia de post. amay, amay, amay. bjo

  7. Adrina

    Eu não tive festa de casamento e, por isso, não tive o desprazer de ver a minha mãe de verde, mas nem por isso dispenso casamentos alheios. Adoro!
    Entre as famosas comidas de casamento, não se esqueça dos rondeles de recheios suspeitos e com a massa em 100% das vezes no ponto errado.

  8. Monix

    “Somos as únicas pessoas do universo que nunca saem da festa falando mal.”
    Me inclui nesse time! Eu também acho tudo lindo, acho que tudo pode. Ah, e eu tb sei fazer maionese caseira, foi uma das boas coisas que minha mãe me ensinou. 🙂

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