Quem me conhece, sabe que já me mudei muitas vezes; de país, cidade, estado, bairro e às vezes até dentro do mesmo prédio. Em todas as mudanças, a primeira coisa que perguntava quando chegava na casa nova era: Mãe, em que caixa está seu caderno de receitas? Se eu tivesse que escolher um item para herdar, seria esse, sem dúvida alguma.
Acho lindo como as receitas ganham identidade e personalidade, é isso o que faz gerar tanto afeto. Sempre vi a cozinha como o cômodo da casa mais animado, mais acolhedor. Cozinhar juntos, é uma das coisas mais gostosas que tem, você compartilha, aprende, ensina, prova, tenta chegar a um consenso de sabores. Abrir uma garrafa de vinho, colocar uma música e passar horas ali. Às vezes, a preparação da comida é até mais gostosa do que a própria refeição. Mesmo quem não gosta de cozinhar tem um papel significativo nesse ambiente, no momento de compartilhar. Até aquele amigo que só vai ralar o queijo, picar a cebola ou lavar a louça (quem cozinha sabe que são as melhores ajudas possíveis!). Pra mim, a culinária é uma mistura de afeto, nostalgia, dengo, carinho.
Às vezes, acho que não sou muito boa com as palavras para expressar sentimentos, mas entendi que a minha maneira de fazer isso é cozinhando. O tempo, o cuidado, a escolha dos ingredientes, a dedicação quando preparo os doces, principalmente, são a minha forma de demonstrar afeto. É uma coisa forte energeticamente, enquanto o bolo assa, fico emanando energia para que cresça bem, fique bom e as pessoas gostem. Já aconteceu de ter que fazer um doce para alguém que não tenho grande afeição e a receita simplesmente desandou. Não tem como ser diferente, culinária é afeto, amor, é a concretização disso tudo.
Parte do meu processo de autoconhecimento é entender a minha relação com a culinária. Testar receitas é meu momento de relaxamento, mas também é quando enxergo minhas inseguranças, afinal, o objetivo é deixar os outros felizes, levar conforto em forma de comida. É como gostar mais de dar presentes do que receber. Por isso, quero que esteja tudo sempre perfeito.
Claramente vejo como sigo o caminho da minha mãe, que seguiu o caminho da minha avó. Ela conhece os pratos preferidos de meus melhores amigos, de toda a nossa família e, muitas vezes, estes pratos se tornam o carro-chefe da minha mãe: mil-folhas, nhocão, bannoff, pavlova, bolo de morango gelado, torta de nozes. Assim, a gente vai construindo nossa história e relação com as pessoas e, consequentemente, com a culinária.
“Comer não é apenas alimento. É sentir emoções, descoberta, memórias, viagens e partilha. Seja bem-vindo ao Amor”. Essa frase estava na primeira página do cardápio do restaurante Amor, em Porto de Pedras, onde fui com a Tati em 2019. Pra mim, é isso. Deixo aqui uma das minhas receitas preferidas. Em todos os meus aniversários, desde a infância, não queria bolo de brigadeiro, mas sim, o Bolo de Nozes da Sandra.

Muito obrigada pelo carinho em publicar meu texto 🙂
Obrigado a você por ceder este lindo texto, Marianna!